Nos últimos anos, a Venezuela passou por uma transformação econômica notável: a adoção não oficial do dólar como moeda de troca em grande parte do país. Esse movimento emerge de maneira orgânica, impulsionado pela necessidade de sobrevivência em meio a uma inflação galopante e pela busca de estabilidade em transações diárias. Um relato recente de um brasileiro que visitou Caracas ilustra como o dólar não apenas se tornou um meio de troca preferido, mas também um ponto de referência econômica que trouxe benefícios palpáveis ao cotidiano dos venezuelanos.
O Papel do Dólar na Economia Venezuelana
Embora o bolívar continue sendo a moeda oficial do país, o dólar americano ocupa um espaço central nas operações financeiras. Nos mercados, restaurantes e até mesmo em redes de fast food como o Burger King, os preços são frequentemente apresentados em dólares. Isso reflete a confiança da população em uma moeda mais estável e reconhecida internacionalmente. Muitos comerciantes ajustam suas tabelas de preços diretamente em dólar, e o troco, em muitos casos, também é dado na moeda estrangeira.
Esse uso generalizado do dólar trouxe vantagens significativas à economia local. Um dos benefícios mais evidentes é a estabilização dos preços em um ambiente que antes era marcada por oscilações diárias e imprevisíveis no valor do bolívar. Com o dólar como referência, a população e os comerciantes podem planejar melhores suas finanças, reduzindo o impacto da hiperinflação.
Benefícios no Comércio e na Economia
O relato do visitante brasileiro destaca como a dolarização facilita o turismo e o comércio. Em Caracas, é comum ver produtos de diferentes categorias – de alimentos básicos a bebidas alcoólicas – precificados diretamente em dólares. Isso também atrai turistas, que encontram uma economia mais previsível e acessível. Além disso, o dólar ajudou a reduzir as incertezas para os comerciantes, que fornecem relatórios de estoques e negociam com fornecedores sem sofrer os impactos imediatos da desvalorização do bolívar.
Outro ponto positivo é a revitalização dos negócios locais. Com a entrada de dólares em circulação, pequenos e médios empresários tiveram a oportunidade de reerguer suas operações. Os supermercados, por exemplo, oferecem uma variedade de produtos, muitos deles importados, que antes estavam fora do alcance da população devido à crise econômica.
A Economia do Dia a Dia
Para os venezuelanos, a dolarização também trouxe uma sensação de normalidade. A possibilidade de usar uma moeda estável em transações diárias, como compra de alimentos ou pagamento de serviços, prejudica a pressão psicológica causada pela hiperinflação. A informalidade desse processo permitiu uma adaptação rápida da população, sem a necessidade de uma política oficial de dolarização como no Equador, na Argentina, quando você vai comprar ou vender um imóvel, você vai receber o preço em dólares, por conta da inflação.
A fatura do supermercado vem em moeda local (bolívares), mas o comerciante só faz a transação em dólares para o cliente e o comerciante não se perde nas contas, isso significa que a moeda Venezuela só é uma faixada!
No entanto, a adoção do dólar também apresenta desafios, como a exclusão de quem não tem acesso a moedas estrangeiras e a dependência de uma economia paralelamente. Apesar disso, o impacto positivo é inegável: o dólar trouxe alívio e previsibilidade a uma sociedade que por anos viveu no caos financeiro.
Conclusão
A dolarização paralela da Venezuela não foi planejada pelo governo, mas surgiu como uma resposta da população às dificuldades econômicas. Hoje, o dólar é amplamente aceito e reconhecido como a “moeda de fato” em muitas partes do país, desempenhando um papel crucial na restrição da economia e na melhoria da qualidade de vida dos venezuelanos. Enquanto o futuro ainda reserva incertezas, é inegável que a adoção do dólar trouxe um respiro de estabilidade a um cenário que antes parecia insustentável.

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