O Brasil possui, atualmente, uma parcela muito grande de sua população que faz de tudo para atacar os servidores públicos, prega a privatização de todas as instituições públicas e trata os trabalhadores do serviço público como se fossem verdadeiros inimigos do país. Este fenômeno revela um grau de desinformação sem precedentes e mostra as razões pelas quais a nação brasileira precisa rever muitos de seus conceitos. Essa péssima mania de atacar os trabalhadores do serviço público sempre vem acompanhada de uma série de comparações que não possuem nenhuma conexão com a realidade e, muitas vezes, ultrapassam todos os limites da má fé. Um dos fatores que levam muitos brasileiros a condenar e demonizar o serviço público é a desinformação e a ignorância sobre a Geografia e outras ciências. O globo terrestre (isso mesmo: a Terra tem forma global; não plana) possui mais de 200 países, sendo que o Brasil está entre os 10 mais populosos. É natural, e necessário, que tenha uma proporção de servidores públicos do tamanho da nação. É tão simples entender isso!
No caso da Amazônia, não dá para ignorar as dimensões da região e todas as pessoas que vivem em terras amazônicas têm o dever de procurar conhecer a história da região. As pessoas que moram em Rondônia, por exemplo, não podem ignorar a geografia, a história, a sociologia e outros aspectos que explicam e justificam a necessária presença de servidores públicos, desde os primórdios da fundação. Se os rondonienses buscarem conhecer a história do estado onde vivem, já será suficiente para entender por que os servidores públicos são necessários. Bem no início do século XX, o servidor público Carlos Chagas descobriu os motivos e sintomas da grave doença que acabou denominada como a Doença de Chagas. A descoberta do cientista brasileiro salvou milhares de vidas. E a relação de Carlos Chagas com a Amazônia é indiscutível, porque as pesquisas desenvolvidas por ele também foram muito importantes para estudar e combater a malária, doença que matou milhares e milhares de pessoas no período da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, e também nas décadas de 60, 70, 80 e 90. Foi exatamente na década de 70 que o Brasil criou a Superintendência de Campanhas de Saúde Pública. Quem não lembra ou nunca ouviu falar da SUCAM?? Um pouco antes da criação oficial do órgão, já existiam os guardas que combatiam a malária no país. Em Rondônia, eles atuavam, desde o início da década de 60. Todos servidores públicos… Trabalho brilhante!!!!
No início da década de 70, o Brasil criou o INCRA, outra instituição que os rondonienses não podem ignorar, por razões óbvias. O estado de Rondônia foi planejado, organizado, criado e povoado com total apoio e participação do INCRA. É muito estranho que as pessoas beneficiadas diretamente pelo INCRA, com a distribuição gratuita de terras, não reconheçam a importância dos servidores públicos dessa autarquia. Rondônia é o resultado do trabalho árduo dos servidores públicos do INCRA, desde 1970. Não dá para ignorar fatos como estes. Além do INCRA, a Emater, Embrapa, a Secretaria de Agricultura e outras instituições afins fazem parte da organização administrativa, política e econômica de Rondônia. Sem essas instituições, todas formadas por servidores públicos, Rondônia não seria o estado que é hoje. Talvez não fosse sequer estado! No Brasil, todas as pesquisas cientificas são feitas por universidades públicas e institutos federais. Todas as pesquisas científicas sobre tecnologias, doenças, vacinas, engenharia, educação e demais áreas são realizadas por servidores públicos. É lógico que as instituições de ensino da rede privada merecem respeito, mas o Brasil não seria nada sem as instituições públicas. Nenhuma pesquisa existiria no país!
Para muitas pessoas desinformadas, é muito mais fácil pegar um celular e atacar servidores públicos, dizer que tudo deveria ser privatizado, que a iniciativa privada é que move o país. É fácil comparar o Brasil com os Estados Unidos, ainda que seja para dizer besteiras, porque os Estados Unidos possuem uma proporção muito maior do que o Brasil de servidores públicos, embora não tenha um sistema de saúde pública melhor do que o nosso. O sistema de saúde pública do Brasil é o melhor do mundo! Nenhum país chega aos pés do SUS. Quem é que não lembra da atuação de todos os servidores públicos do setor de saúde, durante a pandemia da Covid-19? Os trabalhadores do setor de saúde pública fizeram milagres, deram a vida, enfrentaram a grave pandemia de frente. Condenar servidores públicos é uma tarefa de quem não conhece a história de Rondônia; não conhece o Brasil e nem sua própria história. A ideia é estendida para todos os demais setores do serviço público, que fazem tudo para o país andar e, mesmo assim, são condenados pela desinformação. O setor público tem falhas? Claro que tem, e são muitas, mas o país não seria nada sem o serviço público. Aliás, no caso de Rondônia, a BR – 029 foi aberta por iniciativa do serviço público; depois, a BR 364 foi pavimentada por iniciativa do setor público. Quem não sabe disso, não conhece a história de Rondônia…
A educação em Rondônia foi toda estruturada pelos servidores públicos. No início da década de 80, até hoje, muitos profissionais deixaram seus estados de origens e vieram para Rondônia. Grande parte dos professores do estado são servidores públicos. Claro que hoje é uma estrutura mais sólida, mas tudo começou com servidores públicos. É evidente que as empresas da iniciativa privada possuem grande importância. Um país não existe sem o setor público, e nem sem o setor privado. Mas demonizar o serviço público é papel de quem ignora a estrutura de todos os demais países, e do Brasil. Nenhum país da importância do Brasil terá sucesso sem servidores públicos. O resto é pura desinformação ou má fé… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e Jornalista
