Por Francisco Xavier Gomes
CACOAL: ABRAHAM LINCOLN, OS PROJETOS E A VASSALAGEM…
O ex-presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, que morreu em 1861, teria dito, certa vez, que “você pode enganar todas as pessoas por algum tempo; algumas pessoas todo o tempo; mas não consegue enganar todas as pessoas por todo o tempo”. Não existe nenhuma comprovação oficial que garanta realmente a autoria da frase, mas é atribuída ao líder político americano, certamente porque ele tinha uma incontestável relação de proximidade com a população americana. Se declarou, ou não, tal ideia, isso não é o mais importante, porque não impede a reflexão da mensagem contida. Entretanto, os políticos obedianos parecem não ter entendido muito bem. Assim, a relação política entre os vereadores, o poder executivo e a população de Cacoal não tem sido das mais sincronizadas nesse início de mandato e este fato pode ter alguma conexão com o fato de algumas verdades não serem compartilhadas de maneira integral. As últimas discussões envolvendo o projeto que tinha como finalidade criar uma infinidade de cargos comissionados no município, apenas para agradar interesses escusos, revelam que, pelo menos, os servidores públicos municipais, não estão dispostos a serem enganados…
O projeto foi elaborado pelo poder executivo e isso ninguém pode negar, porque ele foi encaminhado ao legislativo oficialmente. Nos bastidores da Casa de Leis, diversas pessoas garantem que os rascunhos impressos do projeto continham até mesmo os nomes dos vereadores que seriam os “donos” de alguns dos cargos citados no projeto e que houve, de fato, uma negociação. É muito difícil acreditar que os vereadores não participaram da negociação, porque esse tipo de matéria não chega do nada. Uma semana antes da chegada do projeto à Câmara Municipal, todo mundo já sabia e partes do projeto foram compartilhadas em grupos de conversas nas redes sociais. Ao tomar conhecimento da situação, muitas pessoas passaram a criticar a ideia, porque realmente era muito absurda. Durante todos os dias de discussões informais, todos os vereadores permaneceram caladinhos, porque eles são controlados politicamente pelo executivo, embora tenham sido eleitos para representar a população. Todo mundo sabe que os vereadores conheciam o projeto e estavam prontos para aprovar, mas eles negam e dizem que “não tinham conseguido tempo para analisar o caso”. Tudo papo furado! Todos eles sabiam da história; e não havia nenhum vereador que fosse contrário.
Entretanto, quando o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (SINSEMUC) convocou uma assembleia geral para discutir o assunto, o clima mudou completamente. Vários vereadores se apressaram em usar as redes sociais para dizer que não tinham conhecimento do projeto, mas que era necessário analisar com calma. As pessoas mais inocentes de Cacoal sabem que os projetos chegam ao legislativo e são colocados à disposição dos vereadores. É muita cara de pau dizer que não tinha conhecimento. Além dos enormes prejuízos que a matéria causaria aos cofres municipais, todos os servidores de carreira seriam prejudicados e também todas as pessoas que passaram meses estudando para fazer o concurso público municipal. Na tentativa de defender a ideia, o prefeito de Cacoal gravou vários áudios e espalhou nas redes sociais, dizendo que o projeto era necessário e precisava ser aprovado, porque o município precisa de servidores em diversas pastas. Em um dos áudios, o prefeito diz que a administração precisa de engenheiros, arquitetos, agentes administrativos e diversos outros profissionais. Segundo ele, os projetos demoram ser executados, porque a falta de servidores impede a celeridade na avaliação dos projetos. Foi exatamente por isso que aconteceu o concurso público!!
Não existe nenhuma lógica em contratar uma empresa para fazer um concurso, fazer o levantamento de quantas vagas serão oferecidas no concurso, realizar as provas do concurso, divulgar a lista de aprovados e logo em seguida tentar criar uma quantidade infinita de cargos comissionados completamente desnecessários. Se faltam engenheiros para analisar projetos, é porque o município não convocou os aprovados no concurso; se faltam arquitetos para elaborar e analisar projetos, é porque o municípios não convocou os aprovados no concurso; se faltam merendeiras, professores, agentes administrativos e outros servidores, é porque o município não convocou os aprovados no concurso. E se as vagas para essas profissões não estavam no edital do concurso, é porque o levantamento sobre vagas não foi feito com seriedade. Agora, tentar justificar a criação de dezenas de cargos comissionados, inventando a historinha de que faltam servidores, não faz o menor sentido. O curioso é que tem muita gente que acredita nisso. Em alguns grupos onde circularam os áudios do prefeito, houve quem batesse muitas palmas para o projeto.
Os vereadores e vereadoras de Cacoal precisam abrir os olhos e perceber que foram eleitos para representar a população, para defender os interesses do município, para defender que haja seriedade e transparência nos atos. Infelizmente, as primeiras movimentações e ações dos novos/as vereadores e vereadoras indicam um nível de omissão muito grande e um grau de submissão preocupante. É muito importante lembrar que ninguém foi obrigado a ser candidato. Se não tem interesse em exercer o mandato, basta renunciar. Mas ficar brincando de engrupir a população, já nos primeiros dias do mandato, é muito feio. Aqueles discursos vibrantes de vários candidatos e candidatas que hoje estão eleitos viraram coisa do passado. Agora, a regra é a vassalagem… Tenho dito!!!
FRANCISCO XAVIER GOMES
Professor da Rede Estadual e Jornalista